Caminhamos pelas ruas desta cidade.
E ouvimos.
Ouvimos homens nas esplanadas.
Ouvimos martelos nas obras.
Ouvimos mulheres nas compras.
Ouvimos carros, motas e camiões.
Ouvimos cães a ladrar.
Às vezes, até conseguimos ouvir pássaros.
Mas onde estão as crianças?
Não vemos nenhuma, não ouvimos nenhuma.
Nos espaços públicos desta cidade,
Não há espaços de partilha intergeracional.
Não há encontros com crianças
Nem entre crianças
A cidade rejeitou-as.
A cidade despida de alegria
Aborreceu-as, destituiu-as.
Não as quer ver, não as quer ouvir.
E elas foram enclausuradas
Em casas-jaulas
Em escolas-prisões
Em horários de trabalho engaiolado
Banidas de todo o espaço público.
Que só é público para os adultos.
Bom, primeiro para os carros
Só depois para os adultos
Uma cidade vazia de crianças:
Crianças não votam no partido
Crianças não compram o local onde vivem
Então, que importa? Quem se importa?
O que é bom para o mercado
É mau para as crianças
É mau para nós
Cidades que não acolhem crianças com prazer.
Cidades sem uma comunidade completa, integral.
Cidades, todas as cidades.
Civilização mutilada, alienada.
Moribunda?