Onde posso encontrar o ruido do tempo? -
perguntei à criança. Ela cegou-me:
Mergulhando os dedos no verde do mar.
Esqueci as amendoeiras em flor
A enevoarem o azul do céu
O Outono enrugou o meu olhar
Indícios de poemas
Onde posso encontrar o ruido do tempo? -
perguntei à criança. Ela cegou-me:
Mergulhando os dedos no verde do mar.
Esqueci as amendoeiras em flor
A enevoarem o azul do céu
O Outono enrugou o meu olhar
Entra-se no poema com o espírito aberto à plenitude.
É essa a verdadeira busca.
Depois, a satisfação da descoberta.
E tantas há a fazer!
Uma ideia original no fluir por vezes amargo do pensamento.
Uma perspetiva nova a abrir no meio do que já estava cansadamente gasto.
A peça que faltava num puzzle há tanto tempo perseguido.
A beleza pura, não contaminada pela vulgaridade das regiões mais baixas
(obstinadamente coladas à vida do dia a dia).
Uma compreensão mais larga e iluminada que leva à expansão do espírito,
arrancando as palas que roubam o sonho e o horizonte.
A fraternidade com o poeta;
ou, se sou eu o poeta,
a fraternidade com as coisas mais vulneráveis e frágeis do mundo:
a flor,
o tremular das ondulação de um lago,
o olhar aberto e desarmado de uma criança,
o sorriso hesitante de uma jovem mulher.
Enfim, descobrir-se mais vivo,
em vez de apenas existir;
recuperando a beleza,
em vez de apenas fugir da fealdade .
Caminhamos pelas ruas desta cidade.
E ouvimos.
Ouvimos homens nas esplanadas.
Ouvimos martelos nas obras.
Ouvimos mulheres nas compras.
Ouvimos carros, motas e camiões.
Ouvimos cães a ladrar.
Às vezes, até conseguimos ouvir pássaros.
Mas onde estão as crianças?
Não vemos nenhuma, não ouvimos nenhuma.
Nos espaços públicos desta cidade,
Não há espaços de partilha intergeracional.
Não há encontros com crianças
Nem entre crianças
A cidade rejeitou-as.
A cidade despida de alegria
Aborreceu-as, destituiu-as.
Não as quer ver, não as quer ouvir.
E elas foram enclausuradas
Em casas-jaulas
Em escolas-prisões
Em horários de trabalho engaiolado
Banidas de todo o espaço público.
Que só é público para os adultos.
Bom, primeiro para os carros
Só depois para os adultos
Uma cidade vazia de crianças:
Crianças não votam no partido
Crianças não compram o local onde vivem
Então, que importa? Quem se importa?
O que é bom para o mercado
É mau para as crianças
É mau para nós
Cidades que não acolhem crianças com prazer.
Cidades sem uma comunidade completa, integral.
Cidades, todas as cidades.
Civilização mutilada, alienada.
Moribunda?
Não envelheço. Gasto-me.
O velho sempre viveu comigo
me pesou, me arrastou.
Nunca me libertei,
pois até os sonhos foram de velho.
Sempre esperei. Agora vou deixando. de.
Enquanto chego, todos os dias,
a lado nenhum. Talvez a um livro.
Talvez a uma tonalidade de luz.
Talvez a um sorriso.
Abstraído na literatura, o crepúsculo desce sobre mim
Uma brisa enfuna levemente a bainha solta da camisa
Sem ver, caminho pelos campos de névoa
Onde estão os pássaros? E as pessoas?
(imagem tirada de Haiku, poesía japonesa para liberar las emociones ) Onde posso encontrar o ruido do tempo? - perguntei à criança. Ela ...