quinta-feira, 18 de janeiro de 2018

Jovens tocadoras de harpas

Jovens tocadoras de harpas
Acariciam seus cabelos ruivos e finos
E cantam a espuma de todos os mares

Há um quadro cinzento
Guardado numa arrecadação cega
Onde cresce uma infância sem luzes

O que vejo quando me distancio

sábado, 13 de janeiro de 2018

Não vens na minha direção

Não vens na minha direção
Mas, apesar de tudo,
Um sorriso largo espraia-se
Na noite luminosa do teu rosto

Deslizam-te das mãos as flores dos teus dias
Como palavras sem sonhos dentro
Deixam-te os dedos feridos
No mar gelado dos gritos
Angustiados dos pavões no parque

Do silêncio resta um leve perfume

terça-feira, 9 de janeiro de 2018

Quero acabar com a memória

Quero acabar com a memória
Entregar todo o meu passado
e o dos outros
Ao esquecimento onde, no fim de contas,
Tudo vai acabar.

Mas a memória levanta-se
Como um nevoeiro durante a noite
Enche-me os sonhos de rostos
De corpos que imprimem a sua realidade,
Sem se apartarem de mim,
Nas sensações vivas do meu corpo.

E quando acordo
Pergunto-me onde estará
O espírito daqueles que
Abandonaram o seu corpo no meu.

Pergunta irrespondível
Cuja única utilidade é amparar-me
Na fragilidade onde me vou movendo
Até o espírito conseguir ficar quase tão
Aprumado como as minhas
Pernas, o meu tronco, a minha cabeça,
O bater do meu coração.

domingo, 7 de janeiro de 2018

O céu cada vez mais azul

O céu cada vez mais azul,
o azul a nascer do branco,
enquanto o silêncio da criança cresce entre paredes.
Há uma página de jornal encostada à berma,
a queimar com poemas ilegíveis contra o sol.
Tudo parado,
com os olhos das mulheres domésticas
por detrás das janelas a observarem,
à espera do momento certo.
Alguém faz um desenho na margem de um livro antigo.
Como um latido cansado a ecoar no espaço,
a ideia de rasgar velhos documentos,
a identidade e coisas assim,
velhas decisões.
Depois, o brilho e a cegueira.
Numa rua de Olhão, à uma da tarde, eu pensava nos meus sentimentos transviados.
Sem nuvens.

Dois pequenos poemas

  (imagem tirada de  Haiku, poesía japonesa para liberar las emociones ) Onde posso encontrar o ruido do tempo? -  perguntei à criança. Ela ...